O conceito de maconha como droga leve é totalmente falso

Psiquiatra PABLO ROIG, referência no Brasil no tratamento de dependentes de drogas, avalia neste artigo as consequências da liberação de maconha e outras drogas.”Quem tem nestas medidas a esperança de uma solução, pensa nelas do ponto de vista político-econômico, mas não do ponto de vista do dependente. É falso pensar que uma droga legal tenha menos efeito sobre a estrutura ético-moral do usuário ou sua eficiência cerebral.” Liberação de drogas beneficia quem?” questiona o especialista de Jovem Pan Pela Vida, Contra as Drogas neste artigo:

A sociedade olha estarrecida para a evolução do consumo de drogas, o começo precoce do contato com elas por parte de crianças e a influência que isto tem na vida de todos nós. O aumento da violência, consequência direta da disputa pelo mercado da droga, da relação dos usuários com traficantes e de usuários entre si, nos limita, encerrando-nos em “bunkers” teoricamente mais seguros.

O Brasil é o maior consumidor de crack mundial, sendo esta droga de uma intensidade, que modifica o código ético e moral do usuário, tornando-o escravo de seu uso e um autômato à procura de sua droga, custe o que custar. Ao vermos as cenas de cracolândias,frequentada por adultos crianças e mulheres, algumas grávidas, coincidimos, com raras exceções, que esta situação deve ser interrompida. O que não se percebe, é que o problema não é o crack em si, mas o consumo de drogas psicotóxicas, com poder de provocar dependência e aqui entram o álcool, o tabaco e a maconha, sendo esta inocentada por não ter uma ação tão aguda como os estimulantes derivados da cocaína, do ópio e as metanfetaminas. O efeito da maconha tem consequências estruturais gravíssimas, alterando em forma duradoura e eficiência cerebral, aumentando significativamente a incidência de patologias psiquiátricas, como depressão, ansiedade, quadros bipolares, quadros psicóticos, etc., portanto o conceito do canabis como droga leve é totalmente falso. Dificilmente um usuário de crack começou o seu uso por esta droga e a maioria seguiu a sequência : cigarro, álcool, maconha, cloridrato de cocaína e crack.

Frente a esta realidade, a sociedade encontra a liberação das drogas, começando pela maconha como um meio de acabar com o tráfico e controlar o uso. Pensa-se em organizar programas para limitar o uso e controlar os efeitos do mesmo. Será que não é o que já existe para o álcool e que se mostra totalmente ineficiente, já que junto com o cigarro são as drogas mais consumidas e com o maio número de adictos?

Aparentemente quem tem nestas medidas a esperança de uma solução, pensa nelas desde o ponto de vista político-económico, mas não desde o ponto de vista do dependente. Há 35 anos que venho trabalhando na área das adicções e convivo com o sofrimento dos dependentes e de suas famílias. Não vejo como saída, que a produção das drogas seja feita pelo estado, já que a doença vai evoluir a partir de uma droga legal ou ilegal. As drogas liberadas não tem menos poder de criar doença que as ilícitas. Por outro lado, as limitações necessárias para o uso legal, não serão suficientes para um adicto, que irá suprir as suas necessidades em forma ilegal, mantendo o traficante como seu fornecedor. Também é falso pensar que uma droga legal tenha menos efeito sobre a estrutura ético-moral do usuário ou sua eficiência cerebral.

Seria bom que os políticos, sociólogos, poetas, idealistas, etc., ouvissem com muita atenção o que os profissionais que passam anos a fio, tentando devolver aos pacientes a sua capacidade de optar e sair da escravidão da droga, tem a dizer.”

 Pablo Roig- psiquiatra, com experiência de 35 anos tratando usuários de drogas e integrante de Jovem Pan Pela Vida, Contra as Drogas. Diretor da Clínica Greenwood. Autor do livro Drogas:mitos e realidade.