Respostas às perguntas da live “Cracolândia: Dependência Química em Tempos da Covid-19”!

Respostas às perguntas da live

“Cracolândia Dependência Química em tempos da COVID_19”

promovida pela Liga Acadêmica de Psicanálise e Psicopatologia:

 

 

RESPOSTAS DO PSIQUIATRA PABLO ROIG, CRM 24968, Diretor da Clínica Greenwood

Jair Batista – E se o usuário não quiser o tratamento?

Geralmente os pacientes fazem uso da negação como mecanismo psicológico de enfrentamento das dificuldades provocadas pela doença. Também responsabilizam os outros pelos seus fracassos, projetando as dificuldades e consequências geralmente na família. Sabemos que esta solução espúria é ineficiente para lidar com o problema, só posterga a solução. Em média, nossos pacientes demoram de 5 a 8 anos para procurar tratamento específico, apelando a pseudotratamentos que não observam a total abstinência como programa terapêutico. Este processo e chamado pelo especialista, Prof. Eduardo Kalina como aperfeiçoamento e não tem verdadeiro valor de reabilitação.

Quando a situação é crítica, com risco para o paciente e os que o circundam, a internação compulsiva tem o objetivo de proteger o paciente e seus achegados. O que deve ser feito é oferecer inicialmente ajuda para aceitação espontânea, implicando a participação de quem tenha influência sobre ele e solicitar a colaboração, para orientação, de grupos de ajuda mútua com Amor Exigente.

2)– Bella Sousa Santos – O cérebro estaria funcionando de maneira “errada” por buscar sempre o mecanismo que nos faz mal? Tu poderia explicar essa questão novamente, por favor Dr. Pablo?

Nosso cérebro tem diferentes áreas com diferentes funções. Na evolução das espécies, os humanos fomos desenvolvendo o Córtex, como a região das funções mais sofisticadas para os valores de nossa espécie. A área límbica, que está na região central de cérebro, tem no Núcleo Acuminado (NA) a função de identificar experiências de recompensa, com a sensação de prazer. Isto se dá graças a liberação de um neurotransmissor chamado Dopamina (DA). Para ter noção deste mecanismo, usaremos alguns exemplos.

Se comemos ao estar com fome, registramos a sensação de prazer ao nos alimentarmos, liberando 50% a mais de DA no NA, se temos uma boa relação sexual liberamos 100% de DA, ao usarmos cocaína, liberamos 500% de DA, com nicotina 250%, com anfetaminas 1.000%, com crack 900%, isto em números aproximados. Como podemos imaginar, a experiencia do contato de estimulantes com o nosso Sistema Nervoso Central (SNC) se transforma numa situação incomparável com qualquer vivência pela intensidade do efeito. Com a repetição do contato, o cérebro vai modificando seu funcionamento, exacerbando a função límbica e prejudicando a função cortical, que é a que consegue controlar nossa impulsividade com a avaliação de consequência de nossos atos. Mudam-se as prioridades e valores, passando a colocar a obtenção de drogas que repitam a imensa sensação de prazer, mesmo que por tempo curtíssimo, apesar das consequências que enfrentarão.

Nada tem significado se não está ligado à intensidade de prazer, mesmo que a qualidade dele seja pífia pelas consequências do consumo. A droga passa a ser a motivação central se suas vidas, custe o que custar, levando os usuários a uma vida de perdas constantes, solidão, fracasso e finalmente e não excepcionalmente à trágica morte.

3) Silvia Maria Lopes de Mello – Temos uma situação complicada visando o isolamento social, durante essa pandemia, em função do isolamento. Como resolver esse impasse pensando na dependência?

Em tempos de COVID-19, estamos vivendo dia a dia, já que se trata de uma situação inusual. Sabemos dos inconvenientes do isolamento e suas consequências em nossa vida psíquica e social. Já verificamos um aumento significativo do uso de drogas psicoativas, principalmente de álcool, aumento de quadros de ansiedade e depressão, aumento da violência doméstica e outas consequências do isolamento. As drogas têm a função, para o usuário, de mediar as emoções, mesmo que isto seja de uma ineficiência total, pelo fato de que o efeito desejado, quando obtido, só acontece enquanto o usuário está intoxicado. Não esqueçamos que as drogas de eleição são, neste caso, as de ação e metabolização rápidas promovendo um uso de repetição compulsiva. Algumas drogas têm seu efeito psicológico interrompido após alguns minutos.

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