Brasil, país de maior número de apreensões da droga da série “Breaking Bad”, metanfetamina.

                                

Artigo  do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968*

As drogas sintéticas têm ganho um espaço importante na relação de usuários de drogas com seu agente etiológico. Dentre as drogas produzidas em laboratório, a metanfetamina ocupa um espaço de uso de proporções epidêmicas. Apresenta-se como um pó branco e amargo ou em forma de cristal azulado. É uma droga altamente estimulante, que pode ser fumada, aspirada, ingerida ou injetada. Comumente, a droga é conhecida como Meth, Cristal Meth,Cristal, Ice, Speed, Glass,Yaba, Christine, Rebite ou Bola. Assim como outras drogas estimulantes, seu efeito farmacológico é em resposta à liberação importante de dopamina no centro da recompensa de nosso sistema nervoso central, sendo este neurotransmissor o responsável pela motivação e a percepção do sentimento de recompensa e satisfação. Pelo fato de seu efeito ser momentâneo e rápido, a tendência de seu uso, tende a tornar-se compulsivo, para recuperar a estimulação obtida em forma imediata pelo fármaco. Esta característica transforma a metanfetamina numa droga de forte poder adictivo, provocando na suspensão do seu consumo sintomas de abstinência como ansiedade, depressão, sintomatologia psicótica e fissura intensa.

                                                                Cartaz  da  série  “Breaking  Bad”

Os efeitos imediatos das metanfetaminas caracterizam-se pelo aumento da pressão sanguínea, da temperatura corporal, da atividade, a diminuição do sono e da fome e aumento da resistência à atividade física. Estas características foram usadas durante a Segunda Guerra Mundial na procura de obter super-homens nas fileiras do exército alemão, fato magistralmente descrito por Norman Ohler no livro “HIGH HITLER”. O processo de produção e distribuição, também está exposto no seriado “Breaking Bad ”, mostrando a relação desta droga com máfias internacionais, assim como o dano que seu consumo provoca.   Além da relação da droga com o aumento da criminalidade e também de acidentes automobilísticos, a indução a comportamentos antissociais e a evasão escolar, as consequências mediatas, incluem a falta de cuidado dos usuários, pelo fato de terem seu julgamento alterado, colocando-os em risco de contrair doenças infecciosas como HIV, hepatite, sífilis ao não cumprirem com os recursos higiênicos no uso injetável. Também apresentam perda de peso, ansiedade, confusão, insônia, perda de memória, comportamento violento, alterações do funcionamento cerebral, paranoia, alucinações, comichão e sérios problemas na dentição.

A sobredose pode provocar AVC e infarto do miocárdio, principalmente, assim como lesões em outros órgãos.

Os tratamentos para este tipo de patologia, baseiam-se na realização de diagnósticos abrangentes, que observem elementos como: o uso concomitante de outras drogas psicoativas, os danos na estrutura psíquica, assim como a biológica do paciente, a sua estrutura de personalidade e os seus elementos cognitivos e sua situação sociofamiliar. A interação de equipes multidisciplinares e de abordagem múltipla, aumentam significativamente a possibilidade da reabilitação. Deve-se respeitar a abstinência de substâncias psicotóxicas e a manutenção do tratamento pelo tempo necessário. A interação do tratamento psiquiátrico com o cognitivo comportamental, assim como técnicas de ressocialização têm se mostrado eficazes.

Nossa preocupação está também ligada à produção anual de aproximadamente 150 novas drogas sintéticas, com poder destrutivo incalculável e com as misturas que os usuários consomem, sem ao menos saber o que estão incorporando em seu sistema. Os profissionais desta área devemos estar permanentemente atualizados e constantemente nos surpreendemos com a criatividade destrutiva permanente dos produtores e consumidores de drogas. 

Um relatório da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), refere que estamos lidando com 350 novas drogas sintéticas no mercado e descreve a abertura de novas rotas de distribuição através de países do oeste da África e o Irã. Também faz referência a que a sua popularidade é facilitada por não terem limitado seu nicho de mercado, podendo ser compradas e vendidas por meios virtuais. Na América Latina, as drogas de maior consumo são ainda maconha e cocaína, não considerando o álcool e o tabaco, mas a metanfetamina vem ganhando espaço significativo e o Brasil e o país de maior número de apreensões da droga.

Temos percebido em nossa atividade terapêutica, que existe uma minimização das consequências do uso destas drogas sintéticas e que os usuários tendem a não as considerar substâncias que provoquem dependência assim como o álcool, a cocaína e o crack. Isto dificulta o tratamento, mesmo em indivíduos que já há tempos perderam o controle de uso, assim como nos impede atuar com os pacientes, através de processos de prevenção secundária. Trata-se de um desafio novo, que requer atenção das autoridades, tanto relativas à saúde pública como os mecanismos de controle da produção, distribuição e uso desta substância bio-neuro-psico-socio-genético-tóxica.

 

 

*Psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968, criador e  diretor  da  Clínica  Greenwood, referência no tratamento de  dependentes de drogas no Brasil, na  Argentina, nos  Estados Unidos e na  Espanha

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