Dr. Pablo Roig: Mensagem para as festas de fim de ano

A Clínica Greenwood trabalha incansavelmente para ajudar os nossos pacientes a desenvolver
um projeto de vida, com uma equipe dedicada, afetiva e extremamente profissional”, escreve neste  artigo o Presidente do Conselho Editorial do Instituto Greenwood, psiquiatra Pablo Roig. Fundador e Diretor da  Clínica Greenwood , o doutor Pablo  defende:  ‘Acreditamos firmemente que a vida pode ser melhor e nos apoiamos nos elementos afetivos como o motor para essa  mudança.”

 

O ARTIGO

Estas festas de fim de ano, apresentam-se de maneira particular,
já que nos encontramos em situação bélica contra um inimigo
invisível, mas que se espalha entre nós, cobrando vidas e
modificando nosso estilo de viver. É tempo de nos protegermos
e protegermos os outros com medidas restritivas, mas
necessárias, que nos afastam fisicamente, mas não nos separam
afetivamente. Lembremos que festejamos o aniversário de 2021
anos da chegada daquele que veio para mudar o sentido das
interações entre os homens, baseando seus valores no amor ao
próximo indiscriminadamente. Não deveria ser um feriado para
incrementar o comércio e sim um momento de reflexão para
reconsiderarmos a nossa relação com a vida, a família e a
sociedade como um todo. A Clínica Greenwood trabalha
incansavelmente para ajudar os nossos pacientes a desenvolver
um projeto de vida, com uma equipe dedicada, afetiva e
extremamente profissional. Dentro desse contexto, lutamos a
nossa guerra contra as drogas e o projeto autodestrutivo ,que
acompanha os pacientes ao chegarem ao tratamento. Sabemos
das dificuldades deste objetivo e pretendemos promover uma
aliança, com a parceria de todos os que procuram nossa ajuda.
Acreditamos firmemente que a vida pode ser melhor e nos
apoiamos nos elementos afetivos como o motor para essa
mudança.
Finalmente, queremos desejar a todos um belíssimo Natal e uma
entrada para o próximo ano com a esperança de que possamos
voltar a aproveitar as coisas boas de nossas vidas.

OS RECURSOS TERAPÊUTICOS NO TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS

Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig,CRM 24968, Presidente do Conselho Editorial do Instituto Greenwood , Diretor Clínico e fundador da Clínica GreenwoodO doutor Pablo Roig irá participar da live da Greenwood sobre INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA na próxima quarta-feira.

 

Ao tratarmos adicções, devemos considerar que estamos
enfrentando uma patologia que apresenta características
diferentes da grande maioria de doenças que são os alvos dos
profissionais da saúde. Devemos vencer resistências por parte
dos pacientes, das suas famílias, com uma legislação confusa, de
ideologias baseadas num liberalismo ingÊnuo, o
desconhecimento e a falta de formação dos que devem lidar com
o problema.
 Trata-se de uma doença que, diferente das outras,
envolve as suas vítimas num elo de negação, fazendo com que os
profissionais que trabalham contra sua patologia tenham que
convencê-los de que adoeceram e que perderam o controle de
suas vidas há muito tempo, que o trabalho terapêutico é difícil,
longo e necessitado de um vínculo entre eles e as equipes que os
tratam, que as mudança devem ser importantes, tanto para os
pacientes como para seu entorno e que a abstinência de todos
os elementos bio-psico-neuro-socio-genetico-tóxicos deve ser
imprescindível, assim como suas relações com gente da ativa. Os
pacientes que procuram a nosso serviço, que muitas vezes é
através de sua família, devem enfrentar uma missão quase
impossível, desde seu ponto de vista e para agravar a situação,
pelo fato de vierem sempre depois de muitos anos de uso,
apresentam-se com alterações valorativas, impulsividade
intensa, elementos defensivos precários e alterações cerebrais
que priorizam o presenteísmo e a satisfação imediata
inconsequente antes da análise de consequências a curto, médio
e longo prazo. 
O tempo de tratamento, tendo em conta a
dificuldade de enfrentar estas mudanças, é o necessário,
contrariando as expectativas nossos pacientes e geralmente
tendem a interromper o tratamento em forma precoce, tão logo
passam a se sentir melhor. Isto facilita que recaiam num tempo relativamente curto, fracassando em sua tentativa e
passando por muitas experiencias de reinternação. Não
esqueçamos que todo contato com drogas é uma experiência
ilegal, auto-agressiva e em alguns casos fatal.

Para enfrentar esta doença, principalmente em casos de certa
gravidade, a internação é a condição que permite a manutenção
da abstinência e o limite concreto tão fortemente evitado pela
estrutura imediatista dos pacientes que não podem esperar,
vivendo uma vida no presente e sem capacidade de medir a
consequência de seus atos, tendo como recursos defensivos a
negação e a projeção. Esta estrutura egóica ineficiente os leva a
procurar a saída química como forma de enfrentar qualquer
situação emocional que proporcionem os estímulos do dia a dia.
O tratamento procura treiná-los para uma vida melhor, com um
projeto enriquecedor e vital, no lugar do projeto tanático com
que chegam à consulta. A internação involuntária permite que
tenhamos tempo para chegarmos aos objetivos terapêuticos que
se enfrentam com as crenças, valores e prioridades que
acompanham aos dependentes químicos
. Não é casual que o
NIDA, organismo dos Estados Unidos que se dedica ao estudo
das adicções, em sua avaliação das características que deveriam
ter os tratamentos para serem eficientes, descreve a
complexidade das medidas terapêuticas e frisa a necessidade de
levar o tratamento até o fim, independentemente do tempo que
isto exija, deixando claro que a desintoxicação é o começo do
processo e não o processo em si e não descarta a
involuntariedade como parte do programa de tratamento.

Na próxima 4a feira, 16/12/2020, estaremos discutindo este
tema, numa live do Instituto Greenwood dando sequência ao
programa de informação, com a participação dos que nos
assistam.
Até lá.

 

Internação involuntária para dependentes de drogas não depende da vontade do doente, porque a doença tira a capacidade de escolha

Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968,Diretor da Clínica Greenwood, referência para especialistas no Brasil, na Argentina, nos Estados Unidos e na Espanha

A grande discussão no tratamento de dependentes químicos está baseada na efetividade dos tratamentos voluntários ou involuntários. Frequentemente as famílias devem apelar ao poder judiciário para poder tratar seus parentes em pleno projeto auto e hetero agressivo, como se a involuntariedade em tratamentos especializados fosse um impedimento para os pacientes realizarem livremente sua destruição ou a de outros. Existe uma tendência, orientada pelo projeto antimanicomial, que confunde a função de instituições, com programas complexos, que estão de acordo com a gravidade e variabilidade da patologia, com manicômios, que em sua maioria eram depósitos de pacientes psicóticos. As internações, tanto voluntarias como involuntárias, tem a função de apresentar ao paciente a possibilidade de ter uma vida melhor, não tóxica, que independe do desejo do paciente se tratar, pelo menos no início do processo de recuperação.

“O DIAGNÓSTICO DOS DEPENDENTES DEVE SER DE FORMA PRECISA, OBSERVANDO A CAPACIDADE DE SE MANTER EM ABSTINÊNCIA”

Para organizar o tratamento das adicções é necessário entender a doença, para que as intervenções sejam eficientes. Devemos considerar que os pacientes devem ser diagnosticados de forma precisa, já que os diferentes graus de gravidade podem nos orientar para indicar tratamentos ambulatoriais, grupos de ajuda mútua, hospital dia, lares protegidos, comunidades terapêuticas, hospitais psiquiátricos ou internações em instituições de alta complexidade. O diagnóstico deve ser amplo, já que as dependências químicas provocam um dano abrangente, que atinge os aspectos bio-psico-neuro- genético-socio-familiares. Para simplificar esta indicação, ela deverá observar a capacidade que possui o paciente de se manter em abstinência do fármaco, seja este legal ou ilegal e seus outros aspectos identificados no diagnóstico, para que o tratamento possa agir na compensação destas características do paciente. Vamos então entender nossos doentes.

“NO BRASIL, CRIANÇAS JÁ EXPERIMENTAM DROGAS, QUE SÃO PROIBIDAS POR LEI FEDERAL”

Geralmente são indivíduos que começaram o uso das substâncias psicotóxicas em forma precoce. Basta olhar os estudos que identificam a idade de começo do contato. Na maioria das vezes são ainda crianças, que tem todo seu sistema neurobiológico seriamente prejudicado. Também são atingidos os recursos psicológicos, com prejuízo significativo na formação da personalidade, nos aspectos cognitivos e nos elementos defensivos para o manejo das emoções. Sabemos que em função de serem negadores e de famílias negadoras, chegam ao tratamento após anos de ter começado a doença, num processo progressivo da patologia que aponta a cronicidade. Não esqueçamos que o fármaco, por atuar geralmente no centro da recompensa e prejudicar a atividade cortical, transforma o adicto em um individuo que altera valores e prioridades e aumenta sua visão narcísica da existência, formando uma unidade impenetrável individuo-droga. Desta maneira a retirada do tóxico, como condição imprescindível para o bom funcionamento do tratamento vira uma tarefa muito difícil e que na maioria dos casos faz necessária a institucionalização do paciente.

“HÁ 13 NORMAS PARA O TRATAMENTO CORRETO DO DEPENDENTE DE DROGA, ENSINA O NIDA”

Em casos de certa gravidade, as clínicas de alta complexidade são a indicação mais precisa. Estas são bem definidas nas condições que o NIDA colocou nos seus 13 itens, que descrevem a extensão das equipes, a função delas, a importância da realização do tratamento pelo tempo necessário e a indiferença em relação à involuntariedade.

As consultas para com os profissionais desta área, geralmente são tardias e induzidas, já que os pacientes, pela negação deles e de sua família com respeito a sua patologia e a impossibilidade de imaginarem sua existência sem o alimento mágico, que fez parte de sua vida tóxica, postergam o contato especializado até que é impossível manter este esquema de vida. Outro inconveniente é o de que assim que se desintoxicam, começam a intentar interromper o tratamento e é esta característica que atrapalha o processo terapêutico, que não se baseia na desintoxicação e sim na reabilitação, projeto este que é bem mais longo e ambicioso.

A avaliação das instituições que se propõem a tratar adicções, deveria ser realizada pelo programa de tratamento e sua aplicabilidade para cada caso, dependendo do diagnóstico rigoroso e abrangente. A estrutura da instituição deve estar de acordo com a complexidade do caso e o conhecimento da patologia. As equipes multidisciplinares e de abordagem múltipla, que atuam pelo tempo necessário e não o predeterminado tem sido as de maior êxito

Greenwood: importância do Acompanhante Terapêutico após a alta do paciente

Artigo do dr. Pablo Roig, CRM 24968, Diretor da Greenwood

 

Na transmissão ao vivo do dia 01/07/2020, abordamos o tema dos acompanhantes terapêuticos na equipe multidisciplinar e de abordagem múltipla que atua na Clínica Greenwood de São Paulo. Foi frisado o caráter imprescindível na difícil tarefa de reabilitar dependentes químicos, como parte de uma interação dr. pabloarmoniosa entre os profissionais que trabalham somando esforços com finalidade terapêutica.

Devemos lembrar a valiosa experiência do Prof. Eduardo Kalina, que no começo dos anos 70, enfrentando a desorientação social por parte dos jovens, influenciada pelo “baby boom” e herdada da revolta durante a guerra do Vietnã, criou uma instância terapêutica que denominou AMIGO QUALIFICADO e que, em razão das características do trabalho, a assimetria de funções, e o fato de ser uma tarefa remunerada, perdia o caráter de amizade, e passou a ser chamada de ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO.

No Brasil, três instituições foram pioneiras na utilização destes profissionais. Em Porto Alegre a Clínica Pinel, No Rio de janeiro a Villa Pinheiros e em São Paulo A Casa. Estas, orientaram o trabalho, principalmente no tratamento de pacientes psicóticos.

NA GREENWOOD, VALORIZAÇÃO DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO

A Clínica Greenwood, vendo que a internação, que é um elemento imprescindível para a reabilitação de grande parte dos adictos, falhava no momento da reinserção social , há 25 anos organizou um Hospital Dia com o propósito de dar a continência necessária para a ressocialização dos pacientes, que durante anos foram formando um ambiente pessoal tóxico, que os isola e deteriora o contato com não usuários. Isto é acompanhado de perda de atividades criativas, produtivas, o desenvolvimento de interesses espúrios e a ruptura de laços familiares. Há uma

significativa deturpação de valores e prioridades sendo a droga o centro de suas vidas. Após o período de desintoxicação, a recuperação de fatores psicológicos e neurológicos afetados pela droga, a reconsideração de valores e prioridades e a procura de reorganização familiar, objetivo que procuramos obter durante o período de internação, começa para estes pacientes a difícil

tarefa de se reinserirem na sociedade de maneira não tóxica. Devem para tanto observar as regras de prevenção de recaída e começar uma vida pessoal e social com atividades saudáveis,

relacionamentos saudáveis, hábitos saudáveis e o abandono das condições tóxicas que fizeram parte de sua vida por muitos anos.

Nesta tarefa, o AT tem um papel fundamental, como ponto de referência, continência, coerência, afeto e disciplina, atuando em concordância com a equipe multidisciplinar como um elemento

imprescindível. São funções do AT:

– motivar a continuidade do tratamento;

  • favorecer a interação social saudável;

– favorecer a palavra como elemento de comunicação evitando

atuações;

– atuar como mediador na interação familiar;

– promover qualidade de vida;

– promover a criatividade do paciente;

-facilitar o desenvolvimento de possibilidades e capacidades

com atividades;

– promover hábitos sãos;

– limitar interações interpessoais prejudiciais.

AT EM TEMPOS  DA  COVID -19

Nos tempos atuais, devido a estarmos enfrentando uma pandemia que restringe nossas vidas, percebemos o impacto que  ela tem nas emoções da população. Observamos o aumento de patologias psiquiátricas ou seu agravamento e o dano que a COVID-19 provocou nas interações sociais e familiares. Frente a isto, mesmo com as restrições que enfrentamos e a limitação no trabalho dos ATs, por não poderem funcionar com os elementos

habituais, ou seja frequentar lugares, ter atividades culturais e recreativas, promover possibilidades “in loco”, criamos programas de acompanhamento virtual, que tem sido de grande valia, para a organização dos pacientes e a superação das dificuldades apresentadas pela situação atual.

Foi muito importante a participação do AT Lucas Uchôa, que com sua experiência mostrou com entusiasmo o trabalho destes profissionais e representou com eficiência a sua equipe.

Também foi extremamente válida a participação da Dra. Helena Parolari,como mediadora e comentarista.

Agradecemos também os comentários dos que participaram da transmissão.

ASSISTA AO VÍDEO 

LIVE: Acompanhamento Terapêutico e Dependência Química na Quarentena

LIVE: Acompanhamento Terapêutico e Dependência Química na QuarentenaNesse período de pandemia de coronavírus a OMS (Organização Mundial da Saúde) percebeu um aumento de casos patológicos ligado a psiquiatria. A experiência da nossa instituição (Clínica Greenwood) percebeu o incremento com agravamento de quadros de depressão, ansiedade, insônia e aumento do consumo de álcool e outras drogas e aumento da violência doméstica agravados pelo momento atual de isolamento social.A Clínica Greenwood, portanto, preocupou-se em chegar aos pacientes de forma virtual para dar os suportes Psicológicos e Psiquiátricos necessários. O Acompanhamento Terapêutico teve seu campo de ação limitado pela quarentena, o que nos levou a criar programas online dessa especialidade, com a finalidade de organizar e orientar, mesmo a distância, os pacientes, possibilitando fazer atividades diferentes em casa sem perder o vínculo terapêutico.Para isso o Instituto Greenwood Centro de Ensino e Pesquisa convidou:Dr. Pablo Miguel Roig – CRM: 24968Médico Psiquiatra, Diretor Clínico e Fundador da Clínica Greenwood e com 42 anos de especialidade no Tratamento de Dependências Químicas e ComorbidadesMs. Lucas Cortelletti Uchôa – CRP: 06/90625Psicólogo Clínico e de Grupo, Mestre em Psicologia como Ciência e Profissão e Acompanhante Terapêutico da Clínica GreenwoodMediadora Helena Mª Parolari – CRP: 06/24199Psicóloga Clínica e Familiar, Neuropsicóloga eDiretora Executiva do Instituto Greenwood Centro de Ensino e PesquisaQuando: 01/07/2020Horário: 20hLocal da Live pelo Link Abaixo:https://www.facebook.com/greenwoodinstitutoMaiores Informações:Whatsapp: http://bit.ly/2Gt6GlTSite: http://bit.ly/2vmoWuRYoutube: http://bit.ly/37AAFUQInstagram: http://bit.ly/2uH4UebFacebook: http://bit.ly/2GoQQJ9Linkedin: http://bit.ly/36BG4Kl

Posted by Instituto Greenwood on Wednesday, July 1, 2020

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Medicina, Psicologia e Enfermagem não ensinam como tratar doença já epidemia no Brasil: dependência de droga. Adictologia”, explica o dr. Pablo Roig

ARTIGO  DO PSIQUIATRA PABLO MIGUEL ROIG, CRM 24968***

Em uma publicação anterior, frisava como a dependência química está carregada de preconceito por nossa sociedade, que mantém uma posição indiferente para com essa doença que atinge um grande número de indivíduos, que afeta a comunidade com o aumento da violência, do ausentismo laboral, do abandono de projetos de formação, o agravamento da morbidade, tendo um custo econômico-social astronômico e dano pessoal para o doente e sua família. Paradoxalmente, esta situação patológica não é observada ao se formarem profissionais da saúde, já que se analisarmos os programas das faculdades de medicina, psicologia, assistência social e enfermagem e não há informação suficiente para que os responsáveis para abordar estas situações mórbidas tenham a expertise para desempenhar sua função. Para problemas complexos, soluções complexas…

 Os pacientes de uma certa gravidade devem ser tratados por equipes que preencham os requisitos para atuar eficientemente contra esta doença multideterminada e com alcance amplo. Os adictos são vítimas de um morbo bio-psico-neuro-genético-socio-tóxico, devendo ter tratamentos que sejam orientados para o enfrentamento de uma entidade ampla, que atinge os aspectos vitais de suas vítimas. Se analisamos o problema com esta seriedade, não podemos negligenciar nenhum dos aspectos essenciais terapêuticos. Não basta para esta tarefa que os responsáveis pelo enfrentamento usem os conhecimentos dos cursos universitários, o treinamento como conselheiros, os grupos de mútua ajuda, se não se entende que a adicção supera os esforços individuais ou a falta de experiência especificamente nesta área. Vemos frequentemente o fracasso dos intentos terapêuticos, mesmo os mais bem intencionados, que geralmente não são suficientemente abrangentes e que dão a esta “especialidade” a má fama de que não há possibilidade de reabilitar os dependentes em forma duradoura. Na nossa instituição, recebemos casos com inúmeras internações anteriores, e que não se sustentam pelo fato de não possuírem os meios terapêuticos que dão continência, vínculo e um projeto de ressocialização posterior ao trabalho intensivo, multidisciplinar, de equipe de abordagem múltipla, realizado frequentemente por meio de internação. As condições para um tratamento eficiente, foram bem descritas inicialmente pelo NIDA e revista no ano 2.000 que inicialmente listou as características da abordagem terapêutica, constando em treze itens essenciais. Recomendo sua leitura: (colocar os itens do NIDA)

Neste momento, em que estamos sendo atingidos por um vírus novo que mobilizou a comunidade mundial, vemos inúmeras publicações científicas  referentes ao tema, programas de treinamento aos profissionais da saúde para uma atuação específica em relação ao COVID-19, a construção de centros de atendimento em tempo recorde, investimentos bilionários para a busca de uma solução ao problema, uma indução à mudança de hábitos e condutas, o uso da legislação para o controle por parte do estado, a medição da quantidade de afetados pelo vírus e as mudanças na atitude em relação à saúde pública, em resumo uma mobilização mundial, com conotações político-econômico-sociais. Que acontece em relação as dependências químicas? Será que o problema é tão insignificante que pode ser negligenciado, ao ponto de não ter sido observado ao formar profissionais da saúde para lidar com esta pandemia que atinge a todos nós, em todos os aspectos? Assim com o Corona, temos muito a apreender com esta doença, mas a pior forma de enfrentá-lo é pensar que é um problema menor. A sociedade deve abrir os olhos para esta entidade nosológica e começar o seu enfrentamento formando “soldados” eficazes, com conhecimento de causa que possam entender o seu inimigo para atingi-lo em forma eficiente e responsável para o bem da sociedade.  

É imprescindível que revejamos a ótica em relação as adicções, e entendamos que esta guerra, como está sendo encarada atualmente, está sendo perdida por nós. Isto me lembra a guerra em que participei, da Argentina contra a Inglaterra, nas Ilhas Malvinas, em que a minimização do problema bélico por parte dos sul americanos, o menosprezo em relação aos adversários, o desinteresse por ter aliados fortes, as barbaridades diplomática orientadas pela negação e a arrogância, nos levaram a uma derrota humilhante. Se vale de alguma coisa observar a história para aprender com ela, não menosprezemos o nosso inimigo e façamos uma análise logística e estratégica para não continuarmos a ser derrotados pelas drogas. Vale a pena rever os currículos de formação de profissionais da saúde e considerar que talvez a adictologia seja uma nova especialidade a ser respeitada.

***Psiquiatra  Pablo Miguel Roig, Diretor  da  Clínica  Greenwood,especializada no tratamento de dependentes de drogas e  recomendada por psiquiatras no Brasil, na  Argentina, nos Estados Unidos e na Espanha.

 

Brasil, país de maior número de apreensões da droga da série “Breaking Bad”, metanfetamina.

                                

Artigo  do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968*

As drogas sintéticas têm ganho um espaço importante na relação de usuários de drogas com seu agente etiológico. Dentre as drogas produzidas em laboratório, a metanfetamina ocupa um espaço de uso de proporções epidêmicas. Apresenta-se como um pó branco e amargo ou em forma de cristal azulado. É uma droga altamente estimulante, que pode ser fumada, aspirada, ingerida ou injetada. Comumente, a droga é conhecida como Meth, Cristal Meth,Cristal, Ice, Speed, Glass,Yaba, Christine, Rebite ou Bola. Assim como outras drogas estimulantes, seu efeito farmacológico é em resposta à liberação importante de dopamina no centro da recompensa de nosso sistema nervoso central, sendo este neurotransmissor o responsável pela motivação e a percepção do sentimento de recompensa e satisfação. Pelo fato de seu efeito ser momentâneo e rápido, a tendência de seu uso, tende a tornar-se compulsivo, para recuperar a estimulação obtida em forma imediata pelo fármaco. Esta característica transforma a metanfetamina numa droga de forte poder adictivo, provocando na suspensão do seu consumo sintomas de abstinência como ansiedade, depressão, sintomatologia psicótica e fissura intensa.

                                                                Cartaz  da  série  “Breaking  Bad”

Os efeitos imediatos das metanfetaminas caracterizam-se pelo aumento da pressão sanguínea, da temperatura corporal, da atividade, a diminuição do sono e da fome e aumento da resistência à atividade física. Estas características foram usadas durante a Segunda Guerra Mundial na procura de obter super-homens nas fileiras do exército alemão, fato magistralmente descrito por Norman Ohler no livro “HIGH HITLER”. O processo de produção e distribuição, também está exposto no seriado “Breaking Bad ”, mostrando a relação desta droga com máfias internacionais, assim como o dano que seu consumo provoca.   Além da relação da droga com o aumento da criminalidade e também de acidentes automobilísticos, a indução a comportamentos antissociais e a evasão escolar, as consequências mediatas, incluem a falta de cuidado dos usuários, pelo fato de terem seu julgamento alterado, colocando-os em risco de contrair doenças infecciosas como HIV, hepatite, sífilis ao não cumprirem com os recursos higiênicos no uso injetável. Também apresentam perda de peso, ansiedade, confusão, insônia, perda de memória, comportamento violento, alterações do funcionamento cerebral, paranoia, alucinações, comichão e sérios problemas na dentição.

A sobredose pode provocar AVC e infarto do miocárdio, principalmente, assim como lesões em outros órgãos.

Os tratamentos para este tipo de patologia, baseiam-se na realização de diagnósticos abrangentes, que observem elementos como: o uso concomitante de outras drogas psicoativas, os danos na estrutura psíquica, assim como a biológica do paciente, a sua estrutura de personalidade e os seus elementos cognitivos e sua situação sociofamiliar. A interação de equipes multidisciplinares e de abordagem múltipla, aumentam significativamente a possibilidade da reabilitação. Deve-se respeitar a abstinência de substâncias psicotóxicas e a manutenção do tratamento pelo tempo necessário. A interação do tratamento psiquiátrico com o cognitivo comportamental, assim como técnicas de ressocialização têm se mostrado eficazes.

Nossa preocupação está também ligada à produção anual de aproximadamente 150 novas drogas sintéticas, com poder destrutivo incalculável e com as misturas que os usuários consomem, sem ao menos saber o que estão incorporando em seu sistema. Os profissionais desta área devemos estar permanentemente atualizados e constantemente nos surpreendemos com a criatividade destrutiva permanente dos produtores e consumidores de drogas. 

Um relatório da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), refere que estamos lidando com 350 novas drogas sintéticas no mercado e descreve a abertura de novas rotas de distribuição através de países do oeste da África e o Irã. Também faz referência a que a sua popularidade é facilitada por não terem limitado seu nicho de mercado, podendo ser compradas e vendidas por meios virtuais. Na América Latina, as drogas de maior consumo são ainda maconha e cocaína, não considerando o álcool e o tabaco, mas a metanfetamina vem ganhando espaço significativo e o Brasil e o país de maior número de apreensões da droga.

Temos percebido em nossa atividade terapêutica, que existe uma minimização das consequências do uso destas drogas sintéticas e que os usuários tendem a não as considerar substâncias que provoquem dependência assim como o álcool, a cocaína e o crack. Isto dificulta o tratamento, mesmo em indivíduos que já há tempos perderam o controle de uso, assim como nos impede atuar com os pacientes, através de processos de prevenção secundária. Trata-se de um desafio novo, que requer atenção das autoridades, tanto relativas à saúde pública como os mecanismos de controle da produção, distribuição e uso desta substância bio-neuro-psico-socio-genético-tóxica.

 

 

*Psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968, criador e  diretor  da  Clínica  Greenwood, referência no tratamento de  dependentes de drogas no Brasil, na  Argentina, nos  Estados Unidos e na  Espanha

Dr. Pablo Roig: “Preconceito ainda marca a dependência de drogas,uma doença do cérebro”

Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968*

 

A dependência química é uma patologia que podemos considerar recente, não em relação a sua existência, e sim, devido a que só nos últimos tempos foi encarada como uma doença em seu tratamento e sua compreensão.

Na década de 50 do século passado, o Dr. Elvin Morton Jelinek, referência no estudo do alcoolismo, escreveu um livro cujo título é “The Disease Concept of Alcoholism”, dando uma clara noção que este conceito não estava internalizado, nem sequer pela sociedade científica. O conceito de doença…

 

A ciência conseguiu modificar alguns preconceitos ligados a doenças que mais que entidades nosológicas, eram vistas como maldições divinas, problemas de caráter, influência de maus espíritos etc. Temos como exemplos a lepra, que atualmente denomina-se Hanseníase em função da carga preconceituosa que os leprosos suportavam, a epilepsia, que estigmatizou os portadores da doença, dando um significado místico às convulsões, a depressão, que até consolidar o conceito biológico deste mal, tinha-se o conceito de ser um transtorno de caráter. São patologias que, na atualidade, não são colocadas como sendo de responsabilidade do doente ou de influências místicas. Nas adicções, a situação continua  carregada de preconceito, talvez pelo fato de que sua sintomatologia tem muito de condutual. O uso das drogas, tanto lícita como ilícitas, vem acompanhada de ruptura de regras e normas de interação social.

          Psiquiatra Nora  Volkow, Diretora do National Institute on Drug Abuse 

Estudos recentes mostram que a dependência química é uma doença do cérebro como é frequentemente afirmado, com apoio em trabalhos científicos incontestáveis, pela Dra. Nora Volcow. As drogas, quando usadas precocemente impedem o amadurecimento cerebral e seu uso continuado altera a relação de diferentes áreas do sistema nervoso central, modificando o equilíbrio entre o desejo, sua avaliação e a realização do ato. Mudam os critérios valorativos, as prioridades e transformam o adicto em um ser imediatista e impulsivo. É claro que esta é a descrição de um indivíduo com sua existência reprovável, mas não esqueçamos que ficar doente não é uma escolha do paciente e que tem uma série de fatores que influenciam a gênese desta patologia como os genéticos e os epigenéticos.

Não é infrequente que os serviços da saúde rejeitem pessoas que vem solicitar atendimento, ao se tratar de adictos.Pessoas não preparadas, incluindo profissionais da saúde, recusam-se a atendê-los, já que não é uma patologia que inspira simpatia nem acolhimento. Esta reação prejudica o processo terapêutico que somada à resistência social, ao despreparo do sistema de saúde e à tendência do paciente de negar a realidade que o acomete, por ser insuportável para ele aceitar ser portador de uma patologia tão humilhante, provoca a ineficiência dos esquemas terapêuticos para a doença. Como resultado, uma pequena porcentagem dos atingidos vem pedir ajuda de própria e espontânea vontade.

Um trabalho que apresentei no Congresso Argentino de Psiquiatria no ano 1978, quando ainda era residente do serviço de Psiquiatria do Hospital Italiano de Buenos Aires, visava a identificar os pacientes com uso excessivo de álcool que estavam internados em um simples dia na instituição. Usamos na época o questionário do Dr. A. Grimson e com a ajuda de todos os residentes pudemos interrogar a 500 pacientes em 24 horas. Nossa surpresa foi encontrar que 20% dos internados aplicavam como bebedores problema e alcoólicos. Nesta época, eu coordenava a equipe de alcoolismo do Hospital e éramos procurados por pacientes diretamente ou recebíamos indicações de outros especialistas. Por se tratar de uma instituição de alta complexidade com diferentes especialidades contávamos com as derivações de colegas de outras áreas da medicina. Mesmo com o potencial de pacientes que o Hospital tinha, atuávamos no máximo em nosso serviço, com o irrisório número de 6 a 8 pacientes. 20% de 500 é 100 em um dia só de pessoas que poderiam beneficiar-se de programas de prevenção e tratamento que não eram encaminhados a um setor específico!!! Vemos aqui a resistência de possíveis pacientes, dos profissionais da saúde e das próprias famílias que sentem a vergonha como motivação para sua atitude. Uma avaliação simples nos levou a perceber que os pacientes que procuram nossa ajuda, geralmente tem sua consulta induzida, quando não tem mais como negar e que geralmente passaram vários anos (de 5 a 8) consultando-se com qualquer especialista, menos o específico, formado e preparado tratar adicções.

É necessário rever nossa ótica em relação à dependência química. É uma doença como as outras, que tem agente etiológico, diagnóstico, prognóstico e tratamentos eficientes, que dependem de profissionais formados especificamente e que tem por função fazer parte de equipes multidisciplinares de abordagem múltipla pela complexidade e a característica multifacética da patologia. O processo de acolhimento e reinserção social, é de extrema importância. Ver os pacientes e suas famílias com compreensão e compaixão faz parte importante do tratamento, já que um fator de recaída sempre presente é a marginalização da vítima da doença.

 

*PSIQUIATRA PABLO MIGUEL  ROIG,  CRM 24968,   criador e  Diretor  da  Greenwood, clínica  referência no tratamento de dependentes de drogas  no Brasil,  na  Argentina, nos Estados Unidos e na Espanha.  

 

Cracolândias e o não cumprimento da lei federal 13.840,que completa um ano hoje, aumentam nestes tempos da COVID-19 os riscos para mães de dependentes de drogas no Brasil

Artigo assinado pelo psiquiatra Pablo Miguel Roig,CRM 24968,dra.Eloisa Arruda e pelo Presidente da FEAE, Miguel Tortorelli***, que participam da campanha “PAIS CONTRA AS DROGAS”

 

Foto: Carlos Torres// cracolândia da Lu, centro de SP

Na São Paulo das cracolândias, onde é fácil conseguir droga, mães de dependentes são grupo de alto risco para a Covid-19. São senhoras de 60, 63, 66 anos que estão isoladas em seus apartamentos ou casas, mas de madrugada, recebem telefonemas para irem buscar filhos jogados nas ruas sob efeito de drogas. Ou são informadas por interfone que filhas estão em táxis nas portas de seus condomínios, com motoristas cobrando e advertindo que estavam na região da cracolândia. Muitas vezes, esses dependentes ficam cinco, seis dias fora de casa usando drogas e, depois, retornam podendo contaminar suas mães porque estiveram em locais de alto risco para o novo coronavírus.

                                                                        Psiquiatra Pablo Miguel Roig

Retrato preocupante do que ocorre em São Paulo e em 85% das cidades brasileiras com cracolândias, conforme números da Confederação Nacional dos Municípios.Cidades que ignoram a lei federal antidrogas 13.840/2019, que está completando UM ANO hoje,5 de junho. Lei que estabelece o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e define as condições de atenção aos usuários ou dependentes e autoriza pais a solicitarem a psiquiatras até a internação involuntária de filhos em hospitais do SUS, quando está colocando em risco sua vida e a de terceiros, como os que e estão em cracolândias.

                                                                           Doutora Eloisa Arruda

Dependência de droga é doença que desestrutura de tal forma o cérebro, que a droga passa a ser prioridade. Cada dependente afeta pelo menos 10 pessoas de seu entorno,causando separação, medo e violência. Entidades que orientam e prestam assistência a familiares de dependentes de drogas, como a Federação de Amor-Exigente, têm constatado o aumento dos casos no Brasil de mães aflitas que,nestes tempos de pandemia,buscam internação involuntária para recuperar os filhos mas enfrentam imensas dificuldades na rede pública pelo não cumprimento da lei 13.840/2019.

                                        Miguel  Tortorelli, Presidente da  Federação  de  Amor-Exigente 

O isolamento forçado, como o que estamos vivendo, é também campo fértil para o agravamento do consumo de drogas tanto lícitas como ilícitas, causando ou agravando quadros de depressão,ansiedade, insônia, violência doméstica e divórcios.E drogas,em sua maioria,agem negativamente em relação à imunidade, sendo que esta é de total importância como elemento protetor contra o novo coronavírus, que causa a COVID_19. Opiáceos claramente diminuem a imunidade, assim como outras drogas que modificam o equilíbrio biológico dos usuários. Drogas fumadas, como a maconha, o crack e o tabaco em cigarro, narguilé, charuto,cachimbo e cigarro eletrônico provocam inflamação das vias respiratórias, facilitando, portanto, o efeito agravante do novo coronavírus que ataca os pulmões. Nas cracolândias, além da droga fumada, há aglomeração e muita sujeira, facilitando, portanto, a contaminação.

Lei prevê também a possibilidade de internação compulsória, quando familiares não são localizados mas o dependente tem surtos psicóticos pelo uso de drogas nas ruas.Importante esclarecer que todos os tipos de internação devem ser informados ao Ministério Público, à Defensoria Pública e a outros órgãos de fiscalização.

Portanto, enquanto a lei 13.840/2019 não for cumprida, a dor vai substituir o amor, além de colocar em risco mães de dependentes que não encontram amparo na rede pública de Saúde para recuperar filhos dependentes de drogas.

**Psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968, especialista há 42 anos no tratamentos de dependentes de drogas e diretor da Clínica Greenwood;, referência para psiquiatras do Brasil, da Argentina, dos Estados Unidos e da Espanha.,

***Doutora Eloisa Arruda Professora de Direito Processual Penal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (graduação e pós graduação), que foi Secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (2017-2018) e Secretária da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo (2011-2014);

***Miguel Tortorelli, Presidente da Federação de Amor-Exigente, que atende e orienta , gratuitamente, por ano, um milhão e 200 mil famílias de dependentes de drogas no Brasil.

Com o isolamento na pandemia, aumenta o uso de drogas

Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968*

Para comentarmos a situação atual das drogas, na convivência com uma pandemia, ainda nos faltam dados fidedignos, já que se trata de uma realidade recente, imprevisível e contaminada por medidas de combate muitas vezes contraditórias e incoerentes. Não podemos ignorar a influência que esta doença tem em nossas vidas, provocando mudanças qualitativas e quantitativas com impacto importante na nossa estrutura psíquica. Temos que restringir nossa liberdade de ação, vivemos com a angústia de sermos infectados, de morrer, de sofrer perdas de nossos entes queridos, de perder o emprego, de não poder pagar as nossas contas e de não saber quando isto vai acabar. Somos bombardeados diariamente com notícias que acabam funcionando com técnicas terroristas e vemos como isto é aproveitado por psicopatas de todas as ordens. Estamos sendo roubados de recursos essenciais para o combate ao vírus. Estamos presenciando o manejo político da pandemia. Vemos como a miséria humana é usada para benefício de alguns, falsificando produtos, roubando materiais, superfaturando compras e empreitas e tudo está ao alcance de nosso conhecimento em forma imediata, pela rapidez com que a informação nos atinge.

Pandemia está causando depressão, insônia, violência doméstica e divórcios”

Recentemente, ao comentar um artigo da Organização Mundial da Saúde sobre os efeitos psiquiátricos da pandemia, verifiquei que a partir da medição de consequências em vários países, encontraram um aumento significativo de quadros de depressão, uma piora nos que já vinham sendo tratados e agravamento dos quadros de ansiedade e insônia. Aumentaram também as denúncias por violência doméstica, feminicídio e divórcios. As crianças, além de serem vítimas de descuido ou mesmo agressão física ou psicológica, apresentam, em função do isolamento, dificuldades em relação à atenção, à motivação e ficando extremamente inquietos. Também houve um aumento importante no uso de drogas psicoativas lícitas e ilícitas.

Vamos nos concentrar neste último ponto. Para entendermos a relação do indivíduo com as drogas é importante compreendermos que elas provocam alterações cerebrais que trazem benefícios imediatos, principalmente na área da recompensa emocional e do manejo de ansiedades, do sono, das dores e provocam estados de euforia. As consequências mediatas passam a ser desconsideradas e o presentismo passa a ser a forma de funcionar do usuário, que procura a resposta satisfatória e rápida em forma inconsequente. Desta maneira vai se desenvolvendo a doença, que vai escravizando a sua vítima, que, desarmada de elementos psicológicos, chamados mecanismos defensivos, que mediem as emoções, usam o efeito imediato dos fármacos para aliviá-las, não importando os efeitos tóxicos transformando as drogas nos recursos defensivos espúrios.

Com o isolamento forçado, aumenta o consumo de drogas lícitas e ilícitas”

Uma situação como a que estamos vivendo, com o isolamento forçado, é campo fértil para o agravamento do consumo de drogas tanto lícitas como ilícitas. Mesmo os que não desenvolveram a doença, estão no grupo de risco, já que os consumidores moderados, talvez não consigam voltar ao uso do padrão anterior após a pandemia. A solução tóxica para o manejo das emoções provocadas pela situação atual é de uma ineficiência total, já que o efeito farmacológico só se obtém enquanto o indivíduo está intoxicado, deixando em muitos casos, posteriormente,  a famosa “ressaca”, que geralmente aumenta o que o usuário tentou diminuir, criando mal-estar físico, aumento da ansiedade, irritabilidade, agressividade, depressão, etc.. Na procura da solução imediata e química destes sintomas, instala-se o círculo vicioso do uso compulsivo e inconsequente.

As drogas, em sua maioria, agem negativamente em relação à imunidade, sendo que ela é de total importância como elemento protetor contra o vírus. Além de atuarem na diminuição imunitária, como é registrado em usuários de opiáceos, muitas delas são fumadas, como o crack, o tabaco em todas as suas formas, o cigarro eletrônico, os canábicos, etc.. Todas elas provocam inflamação das vias respiratórias, facilitando o efeito agravante do vírus no local de maior potencial destrutivo.

Descaso com cracolândias, onde estão grupos de alto risco para a COVID-19”

Uma preocupação que deveria ser de todos é a situação das cracolândias, esse submundo do qual temos poucas informações, mas que é um setor de nossa sociedade. Publiquei minha aflição no Blog da Clínica Greenwood, num artigo cujo título é “Os Descartáveis”, em que denuncio o descaso das autoridades, e de toda a sociedade, em relação a este drama que atinge a todos nós e critico a utilização política, com a promessa de dar uma solução para o problema, que fez parte do discurso de todas as últimas campanhas eleitorais. Os frequentadores das cracolândias cumprem com todas as características do grupo de alto risco. Usam uma droga fumada, que inflama os tecidos do sistema respiratório, não respeitam critérios mínimos de higiene, estão em ambientes de permanente aglomeração e estão imunodeprimidos pelo uso das drogas. Claro que não temos dados a esse respeito, porque ninguém sabe o que acontece nesse meio, mas podemos prever que acontecerá uma catástrofe de proporções gigantescas. Não devemos fechar os olhos para este drama.

É evidente que a situação atual é polifacetada e ainda estamos estudando a conduta do vírus, sua patogenia, os elementos de prevenção para a doença, tanto os primários, materializando-se numa vacina, como os secundários, com métodos diagnósticos e recursos terapêuticos para ação nos estágios precoces da doença e os terciários, com meios que ataquem a doença instalada independentemente da gravidade. Além disso, devemos observar as consequências a médio e longo prazo, onde a psiquiatria e o cuidado com adictos terão um papel preponderante.

*Psiquiatra Pablo Miguel Roig, Diretor da Clínica Greenwood, é especialista no tratamento de dependentes de drogas há 42 anos e se tornou referência no Brasil, na Argentina, nos Estados Unidos, na Espanha e em Portugal.