“Medicina, Psicologia e Enfermagem não ensinam como tratar doença já epidemia no Brasil: dependência de droga. Adictologia”, explica o dr. Pablo Roig

ARTIGO  DO PSIQUIATRA PABLO MIGUEL ROIG, CRM 24968***

Em uma publicação anterior, frisava como a dependência química está carregada de preconceito por nossa sociedade, que mantém uma posição indiferente para com essa doença que atinge um grande número de indivíduos, que afeta a comunidade com o aumento da violência, do ausentismo laboral, do abandono de projetos de formação, o agravamento da morbidade, tendo um custo econômico-social astronômico e dano pessoal para o doente e sua família. Paradoxalmente, esta situação patológica não é observada ao se formarem profissionais da saúde, já que se analisarmos os programas das faculdades de medicina, psicologia, assistência social e enfermagem e não há informação suficiente para que os responsáveis para abordar estas situações mórbidas tenham a expertise para desempenhar sua função. Para problemas complexos, soluções complexas…

 Os pacientes de uma certa gravidade devem ser tratados por equipes que preencham os requisitos para atuar eficientemente contra esta doença multideterminada e com alcance amplo. Os adictos são vítimas de um morbo bio-psico-neuro-genético-socio-tóxico, devendo ter tratamentos que sejam orientados para o enfrentamento de uma entidade ampla, que atinge os aspectos vitais de suas vítimas. Se analisamos o problema com esta seriedade, não podemos negligenciar nenhum dos aspectos essenciais terapêuticos. Não basta para esta tarefa que os responsáveis pelo enfrentamento usem os conhecimentos dos cursos universitários, o treinamento como conselheiros, os grupos de mútua ajuda, se não se entende que a adicção supera os esforços individuais ou a falta de experiência especificamente nesta área. Vemos frequentemente o fracasso dos intentos terapêuticos, mesmo os mais bem intencionados, que geralmente não são suficientemente abrangentes e que dão a esta “especialidade” a má fama de que não há possibilidade de reabilitar os dependentes em forma duradoura. Na nossa instituição, recebemos casos com inúmeras internações anteriores, e que não se sustentam pelo fato de não possuírem os meios terapêuticos que dão continência, vínculo e um projeto de ressocialização posterior ao trabalho intensivo, multidisciplinar, de equipe de abordagem múltipla, realizado frequentemente por meio de internação. As condições para um tratamento eficiente, foram bem descritas inicialmente pelo NIDA e revista no ano 2.000 que inicialmente listou as características da abordagem terapêutica, constando em treze itens essenciais. Recomendo sua leitura: (colocar os itens do NIDA)

Neste momento, em que estamos sendo atingidos por um vírus novo que mobilizou a comunidade mundial, vemos inúmeras publicações científicas  referentes ao tema, programas de treinamento aos profissionais da saúde para uma atuação específica em relação ao COVID-19, a construção de centros de atendimento em tempo recorde, investimentos bilionários para a busca de uma solução ao problema, uma indução à mudança de hábitos e condutas, o uso da legislação para o controle por parte do estado, a medição da quantidade de afetados pelo vírus e as mudanças na atitude em relação à saúde pública, em resumo uma mobilização mundial, com conotações político-econômico-sociais. Que acontece em relação as dependências químicas? Será que o problema é tão insignificante que pode ser negligenciado, ao ponto de não ter sido observado ao formar profissionais da saúde para lidar com esta pandemia que atinge a todos nós, em todos os aspectos? Assim com o Corona, temos muito a apreender com esta doença, mas a pior forma de enfrentá-lo é pensar que é um problema menor. A sociedade deve abrir os olhos para esta entidade nosológica e começar o seu enfrentamento formando “soldados” eficazes, com conhecimento de causa que possam entender o seu inimigo para atingi-lo em forma eficiente e responsável para o bem da sociedade.  

É imprescindível que revejamos a ótica em relação as adicções, e entendamos que esta guerra, como está sendo encarada atualmente, está sendo perdida por nós. Isto me lembra a guerra em que participei, da Argentina contra a Inglaterra, nas Ilhas Malvinas, em que a minimização do problema bélico por parte dos sul americanos, o menosprezo em relação aos adversários, o desinteresse por ter aliados fortes, as barbaridades diplomática orientadas pela negação e a arrogância, nos levaram a uma derrota humilhante. Se vale de alguma coisa observar a história para aprender com ela, não menosprezemos o nosso inimigo e façamos uma análise logística e estratégica para não continuarmos a ser derrotados pelas drogas. Vale a pena rever os currículos de formação de profissionais da saúde e considerar que talvez a adictologia seja uma nova especialidade a ser respeitada.

***Psiquiatra  Pablo Miguel Roig, Diretor  da  Clínica  Greenwood,especializada no tratamento de dependentes de drogas e  recomendada por psiquiatras no Brasil, na  Argentina, nos Estados Unidos e na Espanha.

 

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