Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968 ***
Em um artigo do NIDA, revisado em 2018 na página Drug Facts, sob o título “Anabolic Steroids”, vemos como o uso destes fármacos tornou-se uma preocupação na área da saúde pública. Encontramos sintonia com o descrito e com nossa experiência terapêutica. Usarei os conceitos da publicação, com alguns comentários baseados em achados no nosso trabalho na Clínica Greenwood.
O termo usado no título, refere-se aos fármacos que resultam das variações sintéticas do hormônio testosterona. Anabolizante por ser responsável pela produção muscular e androgênico por aumentar as características sexuais masculinas.
São substâncias que se usam terapeuticamente nas puberdades tardias, no câncer e AIDS, mas halterofilistas fazem seu uso tóxico, na procura de aumentar a performance e melhorar seu aspecto físico. Sua aplicação é maior em homens entre os 20 e 30 anos, que consomem dosagens de dez a cem vezes mais que o indicado por médicos.
O uso dos produtos, que tanto podem ser incorporados em forma oral, injetável nos músculos ou por absorção dermatológica com gel ou pomadas, é sempre excessivo.
As maneiras de emprego geralmente respondem a alguns padrões:
– Tomando doses múltiplas por um período, suspendendo o uso e reiniciando após um tempo;
– Combinando dois ou mais diferentes esteróides e misturando a forma oral com a injetável;
– Aumentando as doses de uso patológico até atingir o pico e diminuindo progressivamente até chegar a zero;
– Alternar ou substituir um esteroide por outro para evitar o desenvolvimento de tolerância.
Nenhum destes métodos reduz a possibilidade de consequências sobre a saúde..
Os EAA não têm o efeito sobre o sistema nervoso central que têm os estimulantes. Não aumentam a liberação de Dopamina no sistema límbico, portanto não ativam o centro da recompensa, evitando os efeitos emocionais a curto prazo. Por outro lado, podem levar a efeitos mentais negativos como:
– Paranoia s zelotipia;.
-Extrema irritabilidade e agressividade;
– Ilusões;
– Julgamento alterado;
-Mania;
-Séria alteração do esquema corporal;
-Alterações de identidade.
Outras alterações na saúde dos usuários são:
-Acne;
-Sudorese excessiva nas mãos e pés;
-Alterações renais;
-Lesões hepáticas e tumores;
-Aumento do volume cardíaco, hipertensão, alterações no colesterol sanguíneo, fatores que aumentam o risco de AVC e ataque cardíaco até em jovens.
Alterações divididas por gênero e faixa etária são:
Para homens:
– Diminuição testicular;
– Diminuição da contagem de esperma;
-Calvície;
– Desenvolvimento de seios;
– Aumento do risco de câncer de próstata.
Para mulheres:
– Aumento dos pelos da face e do corpo;
-Diminuição do tamanho dos seios;
– Calvície de características masculinas;
– Alterações menstruais;
-Aumento do clítoris;
-Agravamento da voz.
Para adolescentes:
– Interrupção do crescimento;
– Diminuição da altura quando os EAA são usados antes da interrupção biológica do crescimento.
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Os EAA têm uma característica que relaciona seu uso ao das outras dependências, apesar de não provocarem o “high” como os estimulantes. Os usuários continuam seu consumo, mesmo enfrentando os efeitos do mesmo. Enfrentam as consequências físicas, o alto custo da droga e os efeitos negativos em seus relacionamentos. Pesquisas mostram que são propensos a desenvolver outras adicções como a dos opiáceos, para combater a insônia e a irritabilidade causadas pelos esteróides.
Também podem apresentar sintomas de abstinência ao interromper o uso, que incluem:
-Fadiga;
-Inquietude;
-Perda de apetite;
-Alterações do sono.;
-Diminuição da libido;
-Fissura por esteroides.
-Depressão que pode levar ao suicídio.
O tratamento deve ser realizado através de psicoterapia comportamental e fármacos que ataquem os sintomas de retirada. Antidepressivos e analgésicos são uteis, assim como medicamentos para compensar as alterações endocrinológicas.
Frequentemente, em nossa experiência terapêutica, vemos uma combinação dos EAA com drogas psicotóxicas, o que é indicação, em muitos casos, de internação para ajudar nossos pacientes a recuperar sua autonomia, reorganizar prioridades, melhorar sua condição física, organizar seu esquema corporal distorcido e equilibrar seu sistema familiar e social, sabendo que o recurso mais eficiente é a abstinência absoluta de substâncias bio-neuro-psico-socio-tóxicas.
*** PSIQUIATRA PABLO MIGUEL ROIG- especialista com experiência de 42 anos no tratamento de dependentes de drogas e Diretor Clínico da Clínica Greenwood. CRM: 24968
e-mail greenwood@greenwood.com.br