VAMOS TRABALHAR JUNTOS

 

Artigo do psiquiatra Pablo Miguel Roig, CRM 24968**

É difícil definir a situação atual, já que estamos sendo bombardeados com informações relativas à COVID- 19 e muitas delas são contraditórias e algumas de uma incoerência extrema. Vemos figuras de todas as áreas trazendo mensagens absolutas e relativas ao mesmo tempo. Observamos o extremo cuidado em relação a alguns e o descuido total em relação a outros.

.Parece que neste momento a saúde reduz-se ao novo CORONA. Outras patologias de índices de letalidade significativamente maiores parecem esquecidas. Em minha área, já que trabalho na reabilitação de adictos há mais de quarenta anos, temos o exemplo da cracolândia.

Foto:Carlos Torres

Cracolândia, antes da pandemia, já matava 30% dos dependentes no período de alguns anos de uso, além do dano provocado por estes indivíduos pelo aumento da criminalidade na região, a desvalorização desse bairro, o favorecimento de um campo propício para o tráfico sem a intervenção do Estado e outros males que caracterizam esta vergonha social, com a que convivemos passivamente. 

Eduardo Kalina, um estudioso das dependências químicas, que dedicou seus 60 anos como profissional da saúde, na tentativa de recuperar seus pacientes, define a adicção como uma patologia bio-psico-sócio- tóxico-político-econômica, marcando esta polideterminação para a doença. Proponho que tenhamos esta visão ampla para definir toda a psicopatologia e seu impacto no indivíduo e na sociedade. 

Mas não é o que tenho observado. Parece que esta nova experiência mundial tem servido para que alguns tenham se aproveitado da ocasião. A desgraça de alguns pode ser proveitosa para outros. Não esqueçamos as fortunas que se criaram a partir das guerras.

 

Nesta nossa guerra atual, alguns com características francamente psicopáticas tem lucrado com máscaras, álcool gel, gás, aumentos abusivos etc.

Não foram só os ganhos econômicos que entraram em cena. Os ganhos políticos, são tão amorais quanto os financeiros.

É incrível que durante esta tragédia que estamos vivendo, tenham sido feitas pesquisas de opinião para avaliar os presidenciáveis.

É insuportável ver como esta situação dramática é usada para enaltecer egos que já estavam inflados. É triste que nossos dirigentes não possam organizar uma visão ampla para enfrentar um a situação tão complexa como a que nos acomete. Graças a Deus, ainda temos os heróis anônimos, que estão na linha de frente e que são os que nos deixam manter esperança na humanidade.

Algumas soluções propostas, tem sido de uma irresponsabilidade e um desconhecimento da situação, que beiram a ingenuidade.

Quem em sã consciência pode achar que a solução para as comunidades governadas pelo tráfico e as milícias está em negociar com eles? É uma maneira de legalizar sua autoridade, dando o poder de decisão a esta estrutura psicopática que tanto dano provoca a todos nós!

Por outro lado, cogita-se penalizar os que não guardam o isolamento como é esperado com multas e prisão. A quem se refere esta medida? Não precisa ir mais longe, é só ir até a antiga Estação Rodoviária, a Praça da Sé, a AV. Roberto Marinho, que vão ter centenas de candidatos para serem cuidados pelo Estado.

Vamos encarar a crise de forma ampla, contemplando todos os impactos nas diferentes áreas e pensando juntos, sem intervenções ideológicas, sem ambições pessoais e talvez possamos encontrar uma saída mais ampla e menos prejudicial.

PSIQUIATRA PABLO MIGUEL ROIG- especialista com experiência de   42  anos no tratamento de dependentes de drogas; Diretor Clínico da Clínica Greenwood. CRM: 24968
e-mail greenwood@greenwood.com.br

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